DOIS EXPERIMENTOS DIDÁTICOS: MILLIKAN, MALINOWSKI E A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE
DOI:
https://doi.org/10.21680/1982-1662.2016v1n19ID11777Palavras-chave:
Antropologia. Teoria Ator-Rede. Ciência. RealidadeResumo
Este ensaio trata da construção de fatos e, por conseguinte, da própria realidade. Seguindo os autores que o inspiram, particularmente Bruno Latour e Marilyn Strathern, minha tese central é a de que a transformação de dados em fatos não é uma alquimia das coisas, mas um arranjo de uma questão de estilo de pensamento. Para mostrar isso, tomo dois casos emblemáticos, já amplamente discutidos tanto na física quanto na antropologia: o da prova da carga do elétron, protagonizado por Millikan (1913), e o das instruções para se fazer etnografia, sistematizado por Malinowski (1922). Minha ênfase, é claro, está na antropologia. O que pretendo mostrar é que a repetição didática de suas experiências de pesquisa produz uma realidade que interessa às suas disciplinas – a física e a antropologia. Associado a isso, introduzo brevemente a ideia de que a virtude intelectual é, por excelência, um critério metodológico do trabalho científico, uma vez que o procedimento e a sua validade repousam na figura do cientista, seja ele um físico, seja um antropólogo. Tal afirmação implica deslocar a moral do campo das propriedades metafísicas para configurá-la como parte do procedimento experimental.